domingo, 13 de dezembro de 2009

Mágoa


Em certo sentido, tudo o que provoca dor física ou mental e angústia emocional, pode ser chamado de MÁGOA. O que quer que golpeie, ou fira o nosso ego é chamado de mágoa. É também conhecida por aquele estado de "estar perturbado". A mágoa pode surgir em qualquer nível da vida, desde o estado pré-natal, infância, adolescência, juventude, idade adulta e até na velhice. Bem no centro de muitas de nossas mágoas está um "sentimento de rejeição". Quanto mais importante ou significativa for para nós a pessoa que nos magoou, maior será o nosso sentimento de ser rejeitado por ela.Da mesma forma, as pessoas sentem-se magoadas quando percebem que perderam alguma coisa. Quanto mais importante a perda, mais profunda a mágoa. Descobrir o que singifica uma perda é o primeiro passo para compreender a dor da mágoa e receber a cura. Mesmo as perdas mais óbvias são difíceis de serem reconhecidas, porque ficamos mais magoados especialmente onde as defesas operam com maior força. E, quando essas defesas são muito rígidas, o mundo perde o colorido porque tudo é "filtrado" por elas. A pessoa, assim, torna-se um indivíduo fechado. Tem pouca alegria, porque a alegria se opõe a mágoa. Reconhecer a mágoa é abrir-se, mas algumas pessoas entendem que, fazendo isso, ficarão vulneráveis a novas mágoas. Assim, elas rejeitam essa possibilidade.Em Hebreus 12, 15 a Palavra de Deus nos diz:
"Tende cuidado que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem."
O texto nos chama a atenção contra a amargura, porque Deus sabe que ela é uma das armas mais poderosas que o inimigo gosta de usar: ferindo os homens e afastando-os uns dos outros e de Deus. Uma ferida na alma pode causar mágoa, ressentimento e amargura.Vamos utilizar a figura da maçã para ilustrar essa reação em cadeia: muitos cristãos são como uma maçã quando cai e é ferida. Por muitos dias não há sinal de estrago. Passado um tempo, aparece uma mancha escura. Esta parte fica podre e a maçã se estraga. É assim que surgem as amarguras: ocorre um incidente que parece não ter provocado dano algum. Acontece que, em vez de se tratar da aparente machucadela, ela é alimentada. Assim, primeiro vem a ferida, aparentemente sem problemas. Segundo, a ferida é alimentada, colocada em banho-maria, lembrada (mágoa). Terceiro, aquela área começa a manifestar sinais de apodrecimento, expressando-se com reações negativas, com silêncios vingativos, respostas ríspidas, isolamento, agressões (ressentimento). Ao final de tudo isso temos uma pessoa amargurada, cuja presença é evitada porque faz mal. Sempre que a mente se detém em lembranças desagradáveis, está abrindo caminho para que essa ferida se degenere em amargura.As pessoas que não conseguem exprimir suas mágoas, muitas vêzes, se vêem aprisionadas em padrões defensivos que passam a controlar as suas reações. Quando a dor de uma mágoa é armazenada, ela continua buscando se exprimir, mas as defesas impedem que ela o faça diretamente. A mágoa reprimida pede para ser sentida em qualquer outro lugar. Assim, essas pessoas estarão desconfiadas, farejando coisas ocultas onde, absolutamente, não existe nada.É interessante observarmos que a mágoa nos mostra aquilo que é mais importante para nós, de forma mais clara do que qualquer outro sentimento. Isso acontece, especialmente, naquelas pessoas que têm menor defesa contra as mágoas. Nós jamais podemos aprender ou amadurecer de uma experiência que negamos, inclusive da experiência de sermos magoados. Pela sua própria natureza, a mágoa é difícil de se negar. A mágoa, magoa. Mas, se aceitarmos que somos vulneráveis e nos abrirmos para a cura pelo Espírito Santo, deixaremos de projetar uma imagem de perfeição, muito comum entre os cristãos. Dessa forma, podemos nos beneficiar bastante com a experiência de sermos magoados.Existem, no entanto, algumas pessoas que, ao invés de projetar perfeição, agem de forma oposta: dizem que não têm qualidades e que o seu caso não tem esperança. Na verdade o que elas estão dizendo é: "Não me magoe, por favor, pois eu sou a mágoa em pessoa !".Outras pessoas têm predisposição para serem magoadas. Isso prova que não estão em falta ou desamparadas e, portanto, não podem ser responsabilizadas por suas complicações. Tais pessoas, com freqüência, usam o fato de estarem magoadas para controlarem os outros, fazendo-os se sentirem culpados. Criam situações em que os outros são forçados a "fazer alguma coisa !". E quando fazem, é mais uma mágoa que surge. Ocorre uma verdadeira manipulação. Como já vimos, o centro da maioria das mágoas é a REJEIÇÃO. Os tipos mais penosos de rejeição acontecem durante os primeiros anos de vida - pré-escola e primeiro grau - porque não existe uma maneira de explicar a razão para uma atitude que as crianças interpretam como rejeição. Podem haver muitas razões lógicas, mas não há possibilidade de comunicá-las e/ou que sejam devidamente compreendidas. Assim, um adulto pode ter mágoas, ressentimentos e amarguras guardadas por muitos anos.Esses sentimentos podem ser dirigidos para as pessoas que lhes atingiram, bem como para Deus. É comum a transferência da imagem ferida e distorcida dos pais para Deus.As conseqüências, quando isso acontece, são desastrosas. Verdadeiras paredes são construídas na alma das pessoas. Ocorrem doenças físicas e mentais, relacionamentos quebrados, isolamento e solidão. Podemos perceber a cadeia: a ferida traz mágoa, a mágoa traz o ressentimento, o ressentimento traz a amargura, a amargura provoca a quebra de relacionamentos e quebra na comunhão do corpo da Igreja, quebra a comunhão com Deus e resulta em cegueira espiritual. Os sintomas de mágoa contra os outros são: ressentimento, amargura, ódio, vingança, retribuição, podendo chegar até ao assassinato.Mas a pessoa pode também ter mágoa de si mesma. Seus sentimentos serão: sentimento de culpa, de inferioridade, de auto-compaixão, auto-depreciação, complexos, indignidade, vergonha, ódio, podendo levar a atitude extrema do suicídio.Já a mágoa contra Deus se manifesta com os seguintes sintomas: dúvida, questionamento, incredulidade e rebelião.
Mas, glórias a Deus, porque existe um remédio para tudo isso: a confissão e o perdão. Vimos que a mágoa, o ressentimento e a amargura trazem um verdadeiro tormento para a alma. Aquele que vive com amargura é prisioneiro de seu passado. Mas o perdão limpa os olhos e dá liberdade.

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